fósseis contemporâneos

fósseis contemporâneos #16 Óleo e cordão sobre tela 100 x 200 cm, 2016

fósseis contemporâneos #1 Óleo e cordão sobre tela 50 x 70 cm, 2014

fósseis contemporâneos #2 Óleo e cordão sobre tela 50 x 70 cm, 2014

fósseis contemporâneos #3 Óleo e cordão sobre tela 50 x 70 cm, 2014

fósseis contemporâneos #5 Óleo e cordão sobre tela 50 x 70 cm, 2014

fósseis contemporâneos #6 Óleo e cordão sobre tela 50 x 70 cm, 2015

fósseis contemporâneos #7 Óleo e cordão sobre tela 50 x 70 cm, 2015

fósseis contemporâneos #8 Óleo e cordão sobre tela 50 x 70 cm, 2015
FÓSSEIS CONTEMPORÂNEOS: NOSSA FRAGILIDADE CAMUFLADA
Fósseis contemporâneos é uma série de obras que propõe a articulação e o diálogo de tensão a partir de temas perturbadores de nossa contemporaneidade: aparência e ilusão, o tempo em seu transcorrer incontornável, a fragilidade humana. Para retratar esse universo temático, o artista opta por duas técnicas: o bordado sobre tela e a pintura a óleo.
O trabalho, utilizando os emaranhados com fios de algodão, remete a um passado ancestral, a uma prática de simplicidade e universalidade, cuja função utilitária passou com o tempo a adquirir características decorativas e artísticas, detendo assim refinamento e reconhecimento em manifestações diversas e riquíssimas. O fio de algodão do bordado pode ser visto também como fio da meada, possibilidade narrativa que se insere sub-repticiamente, que se incumbe de nos lembrar de nossa fragilidade orgânica e psíquica, de nossa própria condição humana. Miguel Anselmo toma por motivos de seus bordados ossos humanos, fragmentos que remetem não somente à unidade do esqueleto, mas também a uma esfera invisível e unificadora entre todas as diferenças possíveis entre os seres humanos – sejam culturais, indenitárias, socioeconômicas. Sob a pele, ainda e sempre os ossos – sob a mesma estruturação tão funcional e harmônica, resultado de uma criação superior de perfeição.
A perfeição criada por sua vez pelo homem só pode ser ilusão e assim, o que nas obras de Miguel Anselmo recobre os bordados, os fragmentos e ossos, são pinturas com técnica ilusionista, que exige enorme rigor e apuro técnico. Nesse plano mais externo de aparência e simulação de realidade, figuram revestimentos de ambientes de convívio: madeiras, papéis de parede, murais e azulejos. Peles inorgânicas, essas epidermes sociais também são capazes de narrar, revelar os efeitos do uso e da temporalidade, seus desgastes e feridas que podem ser simbólicas de outras, das humanas.
Artista de inquietude, Miguel Anselmo nos propõe, a partir dessa conjunção de técnicas, uma necessária reflexão sobre o conflito entre opacidade e transparência, aparência e ilusão, duração e efemeridade - em uma contemporaneidade marcada pela superficial superexposição de tudo e todos, pelo imediatismo de consumo que não envolve somente produtos, mas também pessoas, relações. Em uma síntese de singularidade e potência significativa, Fósseis contemporâneos nos instiga e convida para um mergulho para muito além do óbvio, da primeira vista: Miguel Anselmo, com ousadia, nos toma em desafio.
Eda Nagayama